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Analisando o filme Aniquilação (com Spoilers!)


Duas coisas chamaram minha atenção para o filme Aniquilação, primeiro seu diretor, Alex Garland, o mesmo do filme Ex Machina, que me marcou bastante e depois, por se tratar da adaptação do livro homônimo, escrito por Jeff VanderMeer, que já estava na minha lista de desejados há algum tempo. É claro que não perdi a oportunidade, quando após uma bilheteria fraca nos EUA, o filme teve seus direitos vendidos ao serviço de streaming Netflix.

Depois de finalmente ver a produção fiquei extremamente tentada a trazer uma resenha relacionando-a ao filme A Chegada ou ainda ao mangá Eden, mas como logo vi diversos questionamentos e interpretações circularem pela internet, resolvi que seria mais interessante trazer meu entendimento sobre o que a obra pretende falar e o que significa seus acontecimentos e mistérios. É claro, que para tanto, não poderei evitar os temidos spoilers, então se você ainda não viu o filme, corre lá e confere, e depois vem aqui compartilhar sua opinião, ou então apenas leia esta postagem por sua conta e risco.

Tendo deixado todos avisados, vamos ao que importa!

Uma bióloga (Natalie Portman) se junta a uma expedição secreta com outras quatro mulheres em uma região conhecida como Área X, um local isolado da civilização onde as leis da natureza não se aplicam. Lá, ela precisa lidar com uma misteriosa contaminação, um animal mortal e ainda procura por pistas de colegas que desaparecem, incluindo seu marido (Oscar Isaac).
Logo no inicio do filme somos apresentados a Lena, uma mulher deprimida por estar a um ano sem informações sobre o marido, um soldado que partiu em uma missão secreta e provavelmente, está morto. Apesar de não nos ser revelado desde o principio, ao longo da trama, somos informados, através de flashbacks, que o marido decidiu participar de tal missão como forma de se afastar da esposa ao descobrir que ela estava lhe traindo, o que nos faz perceber que grande parte de sua tristeza é gerada por um forte sentimento de culpa. Culpa essa que vai conduzir todos os passos da personagem durante o filme e que se liga ao tema chave da história.

Logo temos o reaparecimento do marido, que apresenta um comportamento estranho e não consegue explicar onde esteve ou o que esteve fazendo. Nesta cena, Lena passa a fazer carinho nas mãos do marido enquanto busca explicações para o que houve com ele durante seu sumiço. A imagem das mãos é vista através de um copo com água, o que torna a imagem distorcida, ao mesmo tempo ligada ao que conhecemos como real e ainda assim com uma estranha mudança. Acredito que nesta cena o diretor já nos apresenta, em um escala menor e mais comum a nós, a explicação para tudo de bizarro que irá aparecer durante a história: refração, sobre a qual falarei melhor adiante.


O marido de Lena então passa mal e, durante seu transporte ao hospital, sofre uma interdição de um grupo do governo denominado Comando Sul, que leva tanto ele quanto Lena para seu atual quartel. Lá, enquanto ele está a beira da morte, é contado a Lena que ele esteve em um missão especial no Brilho, um local que surgiu de repente, a partir de um farol atingido por algo extraterrestre, e se expande continuamente, e onde todos que entram não voltam, pelo menos até o retorno de seu marido. Logo, uma sucessão de acontecimentos leva Lena, que busca se redimir de sua culpa, e mais quatro mulheres, a uma missão de investigação na Área X, que tem como objetivo ir até o farol.

Ao entrar na Área X, Lena e suas companheiras (que intencionalmente não vou destacar nesta analise) passam a lidar com diversas situações bizarras e ao mesmo tempo a se conhecer mais, mostrando que todas são de algum modo pessoas 'quebradas' e que cada uma apresenta seu próprio motivo para se aventurar em uma missão praticamente suicida.

Logo além do questionamento acerca do Brilho, passamos a questionar a natureza humana que nos leva a ao tema central de todo o filme, a autodestruição. Esse tema está sempre presente, mas se torna ainda mais claro em um dialogo entre Lena e a psicologa do grupo, que lhe fala sobre como autodestruição e suicídio são coisas diferentes, mesmo que tenhamos a tendencia a ver como uma unica coisa.

De alguma maneira, em algum momento de nossas vidas, nós bebemos ou fumamos. Desestabilizamos um bom trabalho ou um casamento feliz. Essas não são decisões, são impulsos.

Com o avançar da missão e, consequentemente, dos acontecimentos estranhos (Jacaré com arcada dentária de tubarão, um corpo que se espalhou de forma similar a fungos, um 'urso' que consegue imitar vozes e plantas que crescem na forma de um corpo humano) uma das personagens finalmente chegua a uma suposição do que esteja gerando tudo: a já citada lá em cima, refração.


Cabe aqui, um lembrete de que refração difere de reflexão, a refração faz com que raios luminosos e ondas sonoras se embaralhem, se apresentando de forma diferente da original. Opa! Não é exatamente o que está havendo com tudo na região? Características de diferentes espécies se mesclando de forma continua e acelerada. Aí surge também um novo questionamento, se tudo que está dentro do Brilho, é afetado por isso, seriam elas também afetadas? A narrativa mostra continuamente que sim, assim como o corpo humano encontrado por elas, o delas também passam a sofrer com a refração, daí temos uma delas percebendo suas digitais se movendo e a modificação do DNA nos testes de Lena.


Lena, sozinha, finalmente chega ao Farol, onde encontra uma câmera com uma gravação que mostra que o marido na verdade está morto e que um outro ser tomou sua forma, ou seja, o 'homem' que voltou para casa, não era o mesmo que havia saído. Um novo ser surge e tenta fazer o mesmo a Lena, numa cena que gerou diversos debates, já que no fim, uma das versões de Lena sai do local e o explode, destruindo todo o Brilho. Mas qual seria a Lena que conseguiu escapar?

Apesar de alguns dizerem o contrário, supus que é "Lena verdadeira" que sobrevive e que narra todos os acontecimentos. É bem claro que a versão que pega o explosivo é a real. Vi comentários dizendo que o alienígena poderia ter, depois de copiado Lena, feito ela parecer com um alienígena e por isso, era o alienígena que saía, mas achei uma solução mirabolante, mesmo para este filme.

Logo, Lena sobrevive a tudo e destrói o Brilho, mas...

Ouroboros (ou oroboro ou ainda uróboro) é um conceito representado pelo símbolo de uma serpente, ou um dragão, que morde a própria cauda. O nome vem do grego antigo: οὐρά (oura) significa "cauda" e βόρος (boros), que significa "devora". Assim, a palavra designa "aquele que devora a própria cauda". Sua representação simboliza a eternidade. Está relacionado com a alquimia, que é por vezes representado como dois animais míticos, mordendo o rabo um do outro. Segundo o Dictionnaire des symboles o ouroboros simboliza o ciclo da evolução voltando-se sobre si mesmo. O símbolo contém as ideias de movimento, continuidade, auto fecundação e, em consequência, eterno retorno.
Lena já não é exatamente a mesma. É possivel percebermos que quando entra no Brilho, Lena não possui a tatuagem que mescla Ouroboros e o infinito, mas quando ela está sendo questionada sobre o que houve enquanto estava na missão, a tatuagem está presente no seu braço esquerdo, assim como estava no de seu 'marido', quando ele voltou para casa. O que seria essa tatuagem? Ao meu ver foi um elemento simbólico que o diretor usou para ligar todos que durante o desenvolvimento do filme foram modificados, aí temos Lena, o marido e o corpo encontrado na piscina.

Porém apesar de uma ideia interessante, ele é um ponto que enfraquece a narrativa por gerar muitos questionamentos sobre sua validade. Primeiro, se isso é uma marcação intencional dos aliens naqueles que eles modificaram, por que usariam simbologias humanas e porque teríamos uma das participantes da equipe possuindo a tatuagem antes mesmo de entrar no Brilho (sim, uma das garotas já possui tala tatuagem antes)? Outro caso possivel é que seja resultado de uma distribuição aleatória causada pela refração, mas então ela acaba não sendo tão aleatória assim, ao afetar apenas os indivíduos em destaque na narrativa (exatamente aqueles que mais são alterados) e ao não afetar os outros seres (cadê o Bambi tatuado? haha) e, novamente, porque uma das companheiras de Lena já teria a tatuagem antes mesmo de entrar no Brilho?

Considerei o uso desta simbologia mal empregado, pois parece querer atrair mais atenção pra si mesma do que complementar a narrativa. Porém, mesmo com seu uso forçado, o que realmente importa é que ela destaca que todo o tempo que Lena passou no Brilho a transformou tanto que ela não é mais a mesma que entrou ali, o que culmina perfeitamente no reencontro entre ela e o 'marido', onde ambos se reconhecem não como alien e humana, mas como serem que mesclam em si ambos, como seres que foram destruídos partindo de bases diferentes e reconstruídos como novos seres.



É isso, espero ter sido clara sobre minha visão de tudo que nos foi apresentado nesta obra, e caso concorde, discorde, tenha algo a acresentar ou uma duvida, é só comentar, que eu vou adorar debater mais sobre este filme! Abraços!

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