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Resenha: A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert, de Joël Dicker



" Aos vinte e oito anos Marcus Goldman viu sua vida se transformar radicalmente. Seu primeiro livro tornou-se um best-seller, ele virou uma celebridade e assinou um contrato milionário para um novo romance. E então foi acometido pela doença dos escritores. A poucos meses do prazo para a entrega do novo original, pressionado por seu editora e por seu agente, Marcus não consegue escrever nem uma linha.



Na tentativa de superar seu bloqueio criativo, Marcus decide passar uns dias com seu mentor, Harry Quebert, um dos escritores mais respeitados do país. É então que tudo muda. O corpo de uma jovem de quinze anos - desaparecida sem deixar rastros em 1975 - é encontrado enterrado no jardim de Harry, junto com o original do romance que o consagrou. Harry admite ter tido um caso com a garota e ter escrito o livro para ela, mas alega inocência no caso do assassinato.

Com o intuito de ajudar Harry, Marcus começa uma investigação por contra própria. Uma teia de segredos emerge, mas a verdade só virá à tona depois de uma longa e complexa jornada.

Um extraordinário livro de suspense, uma história de amor e um thriller excepcional, A Verdade Sobre O Caso Harry Quebert escapa a todas as tentativas de descrição. Nada do que você leu antes poderia prepará-lo para este livro."
      

A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert é um livro que me deixou curiosa por um bom tempo. O título e até a capa, mostrando a pintura de uma cidadezinha pitoresca, a supracitada Aurora, colocou o livro de Joël Dicker em minha lista de desejos por meses. Mesmo estando entediada com histórias criminais, afinal quem lê muita delas acaba se enfadando com os clichês, resolvi dar uma chance.

Ao abrir o livro, fiquei cismada com o excesso de fontes “especializadas” ao redor do mundo o classificando como um fenômeno… Esse tipo de merchan sempre me deixa com um pé atrás. Entretanto, fiquei admirada como este livro prendeu minha atenção e isso já é o suficiente para não classificá-lo como de todo ruim. Como diz uma determinada parte do texto, “Um livro bom é um livro que lamentamos quando chega ao fim”. A frase tem um grande impacto para uma história, digamos, esquecível, mas foi mais ou menos isso que me ocorreu, mesmo que em certo grau.

Me  atentando as suas poucas, mas assertivas qualidades que fizeram com que a leitura me prendesse, cativou estar na pele desse narrador narcisista e fatalista ao mesmo tempo. De igual modo, a escolha do autor em brincar com a ideia de um livro dentro de um livro me pareceu mais original do que a maioria dos romances policiais contemporâneos. Outro grande bônus desta história é o senso de humor. Os personagens são genéricos? Sim, pelo menos noventa e nove por cento deles. Contudo, me diverti muito com as ligações da mãe para o personagem principal, as rusgas entre o investigador do caso e Marcus, e a dedicatória final, em caixa alta, ao senhor Pinkas, rs.

Deixando essas boas impressões do livro, o enredo é totalmente rocambolesco. Muitas cenas desnecessárias e repetitivas. Muitas questões sendo frisadas a exaustão. E sobre o final, não que eu tenha me frustrado, não chega a isso. Discordo de algumas pessoas que disseram que o autor parecia não saber como terminar. Ele sabia sim, o grande destaque a uma determinada família no transcorrer das páginas me deram sinais. As pontas estão quase todas ligadas, mas com aquele ar pesado de novela mexicana, sabe?!

No fim nem foram as absurdas coincidências que me irritaram, eu entrei nessa suspensão de descrença sem problemas. A pieguice é que é difícil. Personagens melodramáticos, movidos ao amor eterno, que não podem viver ou respirar sem o outro. Tem até um Quasimodo nessa história! Isso cansa hein, minha gente?! Acho que já superamos este tipo de literatura há uns bons cento e cinquenta anos. Isso cansa e desce o enredo pro chão junto com romances de banca, que aliás tem muito menos páginas e mais cenas picantes, como diz o editor do Marcus, protagonista/narrador da história.

Fiquei esperando um plot twist no final que tirasse o tal Harry Quebert daquela condição de paspalho apaixonado, mas não, só passou o manto para outro personagem tosco. Aliás, falando em Harry Quebert e sua paixão desenfreada por Nola, é outra coisa complicada de engolir. Não consigo ver como uma cabeça de quase quarenta anos consegue amar, amar, amar, do jeito Romeu e Julieta de ser, uma adolescente de quinze anos… Além de ser um pequeno GRANDE crime de pedofilia, para mim esse tipo de relacionamento está sempre ligado a algum tipo de abuso sexual/psicológico. Em outras palavras, Harry Quebert tinha sérios problemas como ser humano e, independente do destino de Nola, não creio que haveria um Felizes para Sempre aos dois…

  No geral, A Verdade Sobre o Caso Harry Quebert é um livro fácil de ler, empolgante e com ótimas tiradas de humor. Ser repetitivo nem seria um demérito se, ao final da trama, ele usasse todo aquele molho de personagens disfuncionais para dar moral sobre relações abusivas e suas consequências, em vez de frisar que ninguém pode ser feliz sem um grande amor.

Dados da Obra: 
Autor: Joël Dicker
Editora: Intrínseca
Tradutor: André Telles 
Páginas: 576

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