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O Caderno Rosa de Lori Lamby, de Hilda Hilst


“Todos nós estamos na sarjeta, mas alguns de nós olham para as estrelas.” Oscar Wilde 
E quem olha se fode. Lori Lamby



Inicio dizendo que quem não conhece Hilda Hilst precisa conhecer. Se não leu nada dela, tem que ler hoje!

Hilda Hilst foi poeta, ficcionista, cronista e dramaturga brasileira nascida no interior de São Paulo em 21 de abril de 1930. Ela escreveu por mais de cinquenta anos e seus trabalhos são inúmeros, variados, e retratam, no geral, temas como o amor, a inquietude do ser, o feminino, a sexualidade, a morte e a dor.

Aqui abordarei O caderno rosa de Lori Lamby, livro considerado erótico e que tem passagens surpreendentes ao leitor desinformado.

Sinopse: O livro, em grande parte escrito na forma de diário, apresenta uma menina de oito anos que vende seu corpo incentivada por seus pais proxenetas. A obra é, sim, obscena e põe em cheque a moralidade dos leitores, pois é quase impossível realizar uma leitura frígida dos relatos de Lori Lamby. Mas, apesar do impacto inicial causado pelo tema da pedofilia, o livro vai muito além. A própria literatura é alvo de obscenidades: gêneros intercalados, cartas, relatos, citações pervertidas de grandes autores como D. H. Lawrence, Henry Miller ou Georges Bataille e um Caderno negro dentro do Caderno rosa de Lori.

O caderno rosa de Lori Lamby, com ilustrações de Millór Fernandes, está classificado como livro erótico com escrita simples e direta, de uma criança, que demonstra sem qualquer vergonha ou pudor a realidade que vive e convive. 

Já nas primeiras linhas o livro surpreende. Logo de cara temos Lori escrevendo em seu caderno sobre um dos "tios" que a visitam e, em troca de dinheiro, pedem que ela se deixe ser lambida, assim como também lamber. Na realidade, os pais de Lori a lançam no mundo da prostituição por estarem falidos e encontrarem na filha uma maneira de sobreviverem.

Eu tenho oito anos. Eu vou contar tudo do jeito que eu sei porque mamãe e papai me falaram para eu contar do jeito que eu sei. E depois eu falo do começo da história. Agora eu quero falar do moço que veio aqui e que mami me disse agora que não é tão moço, e então eu me deitei na minha caminha que é muito bonita, toda cor de rosa. E mami só pôde comprar essa caminha depois que eu comecei a fazer isso que eu vou contar. Eu deitei com a minha boneca e o homem que não é tão moço pediu para eu tirar a calcinha. Eu tirei. Aí ele pediu para eu abrir as perninhas e ficar deitada e eu fiquei. 

O tema "pedofilia" é trabalhado de maneira consistente e trás ao leitor a real consciência do problema e sua realidade, vislumbrando uma menina que se prostitui sem saber, na realidade, o que faz sendo constantemente incentivada pelos pais que utilizam-se de seu dinheiro para realizar os desejos que a menina tem.

A história de Lori Lamby é desafiadora. Toda construção é engenhosa e leva o leitor, constantemente, a criar e recriar teorias a respeito da temática, se perguntar de onde aquilo veio e se perder, muitas vezes, na concepção narrativa, esquecendo-se que se trata de um livro, por ser de escrita tão real.

Diferentemente do contexto real onde meninas sexualizadas sofrem e precisam, muitas vezes, se valerem de drogas para sobreviverem ao mundo da pedofilia/prostituição, Lori é uma menina que gosta do que faz e que sente muito prazer com os moços que a visitam e a lambem como o gato lambe e esse talvez seja o motivo de maior incômodo da leitura. Lori é uma menina sem base familiar, com a construção de sua personalidade gravemente abalada por sua erotização.

O moço falou  que quando ele voltar vai trazer umas meias furadinhas pretas pra eu botar. Eu pedi pra ele trazer meias cor-de-rosa porque eu gosto muito de cor-de-rosa e se ele trazer eu disse que vou lamber o piupiu dele bastante tempo, mesmo sem chocolate.

Eu ouvi mami dizer que esse verão bem que a gente podia ir pra praia, mas eu fico triste porque não vamos ter as pessoas pra eu chupar como sorvete e me lamber como gato se lambe.

Por fim, o caderno rosa de Lori Lamby pode ter várias leituras e criar discussões sobre pedofilia, a construção familiar, ascensão profissional, amor, exploração trabalhista etc. O final do livro também é surpreendente e nos leva ao entendimento do real motivo que levou Lori lamby a escrever seu diário rosa e contar todas as suas aventuras sexuais.

Título: O Caderno Rosa de Lori Lamby
Autor(a): Hilda Hilst
Editora: Globo Livros
Edição: 2005
Ano da obra / Copyright: 1990
Páginas: 128  

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