Resenha: Mindhunter, de John Douglas e Mark Olshaker
"Durante as mais de duas décadas em que atuou no FBI, o agente especial John Douglas tornou-se uma figura lendária. Em uma época em que a expressão serial killer, assassino em série, nem existia, Douglas foi um oficial exemplar na aplicação da lei e na perseguição aos mais conhecidos e sádicos homicidas de nosso tempo. Como Jack Crawford em O Silêncio dos Inocentes, Douglas confrontou, entrevistou e estudou dezenas de serial killers e assassinos, incluindo Charles Manson, Ted Bundy e Ed Gein.
Com uma habilidade fantástica de se colocar no lugar tanto da vítima quando no do criminoso, Douglas analisa cada cena de crime, revivendo as ações de um e de outro, definindo seus perfis, descrevendo seus hábitos e, sobretudo, prevendo seus próximos passos.
Com a força de um thriller, ainda que terrivelmente verdadeiro, Mindhunter: o primeiro caçador de serial killers americano é um fascinante relato da vida de um agente especial do FBI e da mente dos mais perturbados assassinos em série que ele perseguiu. A história de Douglas serviu de inspiração para a série homônima da Netflix, que conta com a direção de David Fincher (Garota Exemplar e Clube da Luta) e Jonathan Groff, Holt McCallany e Anna Torv".
Se você viu a séria da Netflix baseada neste livro, sabe que ela tem um ritmo sufocante mesmo não mostrando nenhum crime sendo cometido. Um grande mérito a David Fincher, captando bem a essência sinistra de sua fonte, já que este livro é bastante sufocante ao longo de suas trezentas e tantas páginas.
Nesta história não ficcional, John Douglas nos levara nas entranhas das décadas de 70,80 e 90, o período em que atuou como profiler de Assassinos em Série que atuaram nos Estados Unidos durante esses anos, prestando ajuda a polícias locais na captura de tais psicopatas. John e sua equipe correlacionaram os perfis das pessoas que levam a cometer crimes hediondos em série e inaugurou o termo "Serial Killer", vastamente explorado na cultura pop atual.
A leitura é fluída e mórbida ao mesmo tempo. Viajamos no tempo para conhecer casos como do Filho do Sam, o Matador de Colegiais, o Açougueiro de Anchorage, dentre outros. Lemos do mesmo modo como se estivéssemos lendo um romance policial muito bom, mas infelizmente tudo que está nessas páginas é real. E, macabramente, isto contribui para a narrativa do texto nunca ser monótona.
Mesmo não se tratando de um manual sobre a caça de Assassinos em Série, somos introduzidos a psicologia deste tipo de criminoso, as teorias para a sua psicopatia e o que desencadeia seu ciclo de matança. O capítulo "A Batalha dos Psiquiatras" é um show a parte e se você não tiver estômago para ler os outros capítulos, tente se ater a este, pelo menos. Ele entra num embate profundo a cerca da questão da insanidade deste tipo de indivíduo e nos mostra até quando uma avaliação psiquiátrica de incapacidade mental é vantajosa dentro de um tribunal.
Os pontos negativos que encontrei são poucos, porém devem ser esclarecidos. Como se trata da biografia pessoal do autor mesclada aos momentos mais importantes de sua profissão, as primeiras cem páginas se arrastam um pouco. Douglas irá descrever desde sua adolescência, passando pelas diversas incertezas da suas escolhas de jovem adulto até se tornar um renomado funcionário do F.B.I. Percorrido as cem páginas de introdução, é preciso ter alguma paciência ao egocentrismo do autor. Enquanto ele é instigante ao detalhar os casos mais macabros que já encontrou ao longo de sua carreira, também sofre de uma enorme arrogância ao deixar claro, em muitas passagens, o quanto a sagacidade dele fez toda diferença em caso X ou Y.
Outro ponto é termos que ter cuidado para avaliar os crimes e seus executores através de nossos próprios conceitos morais. Como John Douglas esteve dentro desses casos boa parte da vida e viu coisas horríveis, ele se torna panfletário à pena de morte e tenta nos frisar sobre sua importância em vários capítulos. Creio que esta questão, religioso ou não, cabe ao leitor decidir, não o autor.
Ao fim do livro, que, tomado os devidos filtros, vale muito a pena sim, Douglas diz, não no sentido simplista, que o mundo precisa de amor, mais compreensão familiar, menos lares disfuncionais e menos atitudes destrutivas para se construir pessoas e sociedades melhores. Com isto, eu concordo!
Dados da Obra:
Título - Mindhunter
Autor - John Douglas e Mark Olshaker
Editora - Intrínseca
Tradução - Lucas Peterson
Páginas - 384
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